Na sessão com a Profª Helena Rebelo Pinto, a encarregada de educação Maria João Veiga leu um conto d esua autoria, criado para o projeto ENTRE O SONO E O SONHO.
Cremos que ele espelha bem aquilo que pensamos sobre esta ligação entre dormir e pensar, imaginar, ser gente.
III.
Para mim, o sono e o sonho
andam de mãos dadas.
Muitas
vezes, para o bem. Algumas vezes para o menos bom – os denominados pesadelos.
Dizem que todos sonhamos, mas que apenas alguns de nós se lembram do que sonham
quando acordam.
Filosoficamente,
gosto de pensar que, se o sono nos arrasta, ainda que temporariamente, para
longe da vida que estamos a viver, o sonho é, muitas vezes, a antevisão dessa
vida que será a eterna. Aceito este pensamento e aconchego-me a ele sempre que
sonho coisas boas. Refuto-o quando tenho pesadelos.
De um
modo ou outro, quer o sono, quer o sonho são indissociáveis das necessidades
humanas e terrenas. Devemos dormir. É obrigatório sonhar…
Porque
sem dormir, ficamos doentes. Porque sem sonhar, somos doentes.
Dizem-nos,
repetem-nos, a instar ao sono dos mais novos, a fazê-los ceder ao cansaço que
não sentem, a vergar-se ao escuro que permite o descanso ao cérebro. Não
conheço melhor forma de atingir este fim senão através da explicação de que
dormindo, nos abrimos ao mundo dos sonhos e que, neste, com a absoluta,
incrível e por vezes confusa cronologia, podemos ser quem quisermos e somos
verdadeiramente felizes. E induzir o sono daqueles por quem nos compete velar
com histórias de encantar, é, sem dúvida, o melhor forma de alcançar este fim!
Histórias. Palavras entrelaçadas que contam mistérios e resolvem enigmas. Que
estreitam laços, que permitem um abraço, um beijo, uma ternura à beira do sono.
Sejam de fadas, de princesas, de perigos dominados, a recompensa dos bons e o
castigo dos malvados são, sem dúvida, regras de oiro para aprender a dormir, a
sonhar, e, sobretudo, a bem viver.
Maria João Veiga
(Inéditos apresentados n’Uma Noite para Ressonhar, 23 de março de 2012)